quinta-feira, 13 de maio de 2010

BEBIDA E DIREÇÃO: MELHOR NÃO COMBINAR


2007


Ao sentar diante do volante em um automóvel, um mundo de possibilidades surge para o motorista. Em contraponto, uma imensidão de responsabilidades também é assumida por aquele que comanda o veículo. A mais importante delas é o cuidado com sua vida e as de todas as pessoas que vão cruzar seu caminho durante qualquer trajeto. Alguma novidade nisso? Com certeza, não. Afinal, grande parte dos acidentes de trânsito no país se dá justamente pela falta de compromisso com a vida por parte de diversos motoristas que simplesmente desobedecem uma das máximas para quem dirige: não ingerir bebidas alcoólicas.

Embora o Governo invista em campanhas para conscientização na TV, rádio, jornais, revistas e internet, ainda assim os números são altos. Durante o final de ano, período de maior fluxo de carros nas estradas e vias urbanas do país, o aumento do número de acidentes é superior a 20%. Principalmente por conta do abuso no consumo de álcool. Outro dado preocupante é o número de mortos no trânsito que não pára de crescer no país: subiu de 33.288 em 2002 para 36.611 em 2005. Metade deles por beber demais. O Ministério da Saúde também registrou entre 2000 e 2006 um aumento de 50% nos gastos com internação decorrentes de acidentes de trânsito.

O Código Nacional de Trânsito regulamenta que o motorista que tem 0,6 gramas de álcool por litro de sangue (equivalente a três taças de chopp) não reúne mais condições para guiar com segurança. No entanto, um levantamento feito em 2005 pela Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que, de 442 cadáveres de vítimas de acidentes de trânsito na capital federal (entre pedestres e motoristas), quase metade (44,8%) apresentava níveis alcoólicos acima do permitido. Só nos casos de colisão, 44,24% deles estavam embriagados e 92% eram os condutores dos veículos. Nas capotagens, quase 60% das vítimas estavam alcoolizadas, sendo que entre elas, 84,6% eram motoristas.

Os dados da UnB também mostram que a maioria dos acidentes com mortes acontece nos fins de semana, entre 18h e meia-noite. Dos corpos pesquisados, 83,1% eram homens e 63,9 deles eram solteiros. A maior parte das vítimas tinha entre 18 e 35 anos.

Uma curiosidade que os estudantes da UnB observaram é que os maiores índices de álcool (2,46 g/l sangue) foram encontrados justamente nos corpos autopsiados dos pedestres mortos nos acidentes.

Para o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão esses dados são preocupantes. Segundo ele, o contato com o álcool é cada vez mais precoce: a associação entre beber e dirigir, a associação entre álcool e a violência contra mulher e o idoso. "Esses cálculos são imensuráveis para a sociedade. É uma realidade que incomoda, porque estamos lidando com hábitos comportamentais enraizados. É preciso enfrentá-los com uma política ampla e que esteja permanentemente debatida", acrescentou.

Tradição brasileira

Com o passar dos anos a bebida alcoólica tornou-se a droga preferida dos brasileiros (68,7% do total), seguido pelo tabaco, maconha, cola, estimulantes, ansiolíticos, cocaína e xaropes. No país, 90% das internações em hospitais psiquiátricos por dependência de drogas, acontecem por causa do álcool. Outro agravante é o fato de que motoristas alcoolizados são responsáveis por 65% dos acidentes fatais, em São Paulo.

As propagandas de bebida estão na TV em número superior às campanhas de conscientização feitas pelo governo. A associação de bebida com alegria, popularidade e até mesmo o sexo é freqüente nos comerciais e podem induzir os mais jovens a se alcoolizar cada vez mais cedo. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia de 2007, revelou que 64% dos jovens universitários, de 18 a 30 anos, do Rio de Janeiro e São Paulo declararam já ter dirigido depois de beber, sendo que 31% disseram já ter feito isto "muitas vezes" (26% "sempre dirige depois de beber").

Em maio de 2007, o Governo Federal criou a Política Nacional sobre Bebidas Alcoólicas, que utiliza ações intersetoriais voltadas à redução do consumo de álcool, com medidas como: a restrição das propagandas de bebidas alcóolicas (que hoje obrigatoriamente usam o termo "aprecie com moderação"), dificultar o acesso com a proibição da comercialização de bebidas nas estradas federais, proibição de venda em postos de gasolina que deve ser feita em parceria com governos locais, o cumprimento da Lei 11275/2006 (comprovação do estado de embriaguez sem a necessidade do bafômetro), entre outras medidas.

Método invasivo

A utilização do bafômetro - aparelho que mede a quantidade de álcool ingerido pelos motoristas - para determinar a embriaguez no trânsito tem causado uma polêmica. Tudo devido a um artigo da Constituição Federal determinando que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Contudo, segundo os agentes do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), somente as pessoas que estão realmente alcoolizadas se negam a fazer o teste.

De acordo com o gerente de Fiscalização de Trânsito do Detran-DF, Silvain Fonseca, quando a pessoa se nega a assoprar no aparelho, é obrigada a ser encaminhada até a delegacia. "O que muitos não sabem é que os sinais de embriaguez detectados pelos agentes de trânsito ou policiais que realizam blitz caracterizam provas contra o motorista que coloca sua vida e a vida de outros cidadãos em perigo, mesmo que ele se negue a fazer o teste. É o que diz a Lei 11.275, de sete de fevereiro de 2006, do Código de Trânsito Brasileiro", completa Fonseca.

Ele alerta que os motoristas devem entender que o objetivo dos agentes não é penalizar. "Nossa intenção é educar e prevenir acidentes e mortes, tirando das ruas uma pessoa que pode causar danos a si própria e a terceiros. Diariamente, nos deparamos com histórias muito tristes por causa da falta de consciência e amor a vida", diz.

Efeitos do álcool

O álcool afeta principalmente o Sistema Nervoso Central (SNC), depreciando-o com a mesma ação dos anestésicos voláteis. Quando o homem é intoxicado de forma aguda pelo etanol (embriaguez através do álcool), tem reações bem conhecidas: fala arrastada, falta de coordenação motora, aumento de autoconfiança e euforia.

As alterações de humor variam de pessoa para pessoa, mas a maior parte se torna mais ruidosa e desembaraçada. Outros, entretanto, ficam mais morosos e contidos. Alguns atingem a melancolia, agressão e submissão. Intelectual e motoramente, o desempenho é prejudicado, além de também danificar a discriminação sensitiva. O álcool dá uma sensação de calor, aumenta a saliva e o suco gástrico e seu uso sem moderação pode gerar lesão no estômago e intoxicação aguda e pode levar à morte. (FONTE: Farmacologia, 3a.ed., Ed. Guanabara Koogan, 1997, p.520. FIGURA: capa da Revista Plantão Médico - Drogas, Alcoolismo e Tabagismo, Ed. Biologia e Saúde, RJ, 1998).

Outros efeitos do álcool sobre o organismo do homem/mulher são estes:

- diurese autolimitada

- vasodilatação cutânea (vermelhidão)

- retardo no trabalho de parto

- prejuizos no desenvolvimento fetal

- degeneração neurológica (bebedores inveterados), como a demência e neuropatias periféricas

- hepatopatia que progride para a cirrose e a insuficiência hepática

- tolerância, dependência física e psicológica (vício)


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